sexta-feira, 29 de abril de 2016

Educar, amar, respeitar, construir... Agradecer.


Muito se fala que a geração atual é uma geração conectada, da informação, da agilidade do pensar que domina desde sempre a tecnologia, afinal nasceu imersa neste mundo. Mas não é bem isso que venho reparando, veja só, sou professora em uma universidade federal, lido diariamente com jovens entre 17 e  25 anos e o que percebo é que eles tem uma enorme dificuldade de se aprofundar em qualquer assunto. Eles tem domínio das mídias sociais, mas precário domínio das ferramentas de internet e/ou de informática. Vejam bem, em sua maioria esses jovens sabem dar um "google" mas não tem a mínima ideia do que é um operador booleano, usam facebook, instagran e etc, mas não dominam uma planilha de dados, e isso é muito, mas muito comum. E muito pior, não dão conta de ter discordâncias sem brigar, de esperar, de ter paciência... possuem vasta informação mas escaço conhecimento.

Dito isto, me volto para os pequenos e o que vejo? Pais, avós, tios e tias se gabando que uma criança de 2 anos sabe ver um vídeo no youtube ou joga um joguinho no tablet. Dia desses observei uma garotinha, ela assistia videos no celular do pai enquanto esperava uma consulta, bom, ela assistia no máximo 10 segundos de cada vídeo e já mudava para outro e assim foi por uns 10 minutos ou mais.

Então, muito tristemente observo esta superficialidade sendo cada dia mais a regra. A mim parece que temos, cada dia mais, preguiça (ou medo) de pensar, refletir, contestar... Acabamos por aceitar o discurso normalizador e tentar nos enquadrar no modelo proposto.


E quando o assunto é criança e educação infantil parece que tem fórmula pronta... quando fui buscar escola para Marina a primeira vez me choquei com a quantidade de absurdo que vi (TV na sala de aula, Mucilon sendo colocado na apostila quando iam trabalhar com alimentos, Oferecimento de tablets, Vender como vantagem o parque ser totalmente emborrachado e por ai vai...). Acabei escolhendo uma escola realmente construtivista e que tinha bastante espaço aberto e parque com areia, aliás gosto muito desta escola até hoje apesar de algumas discordâncias.

No entanto, sempre acreditei em uma liberdade do brincar, do ser criança que as escolas normalmente não oferecem, aliado a isso, a própria Marina nunca se enquadrou bem neste modelo normalizador. Obvio que ela não contestava conscientemente, mas nunca se mostrou muito feliz com competições, apresentações formais, e com o ritmo imposto no modelo mais tradicional (muito embora construtivista) da antiga escola.

Acontece que ano passado passei a frequentar um grupo de pais que pensava parecido e que estava se organizando para abrir um jardim de infância. Juntamo-nos a este grupo, e iniciamos uma jornada para a construção deste espaço que finalmente abriu este ano, o Jardim Semear, um jardim de infância com inspiração Waldorf.

Venho acompanhando as mudanças em Marina desde então, da alimentação (o lanche é feito junto com as crianças e é coletivo, sempre natural e saudável) a forma de brincar. Como na pedagogia Waldorf entende-se que durante o primeiro setênio o aprendizado dá-se principalmente pela imitação e não pelo processo de educação formal, o brincar livre é mais valorizado, pois é justamente neste espaço que a criança experimenta, repete o que observou, aprende tanto emocionalmente quanto cognitivamente. Além disso é livre para imaginar, testar os limites do corpo, ter equilíbrio, desenvolver a coordenação motora e outras habilidades que não saberei explicar corretamente ainda.

Ma posso falar do que vejo na minha filha. É uma criança que me pede para desligar a TV, está muito mais imaginativa, segura, que vem testando os limites do seu corpo, subindo, descendo, tentando, com suas pequenas mãos fazer alguns artesanatos. E sabe o mais engraçado? A despeito de não ter aulas formais, ela vem apresentando uma sede de saber que não tinha antes. E vem, mesmo que a seu ritmo, pedindo para aprender algumas palavra, essa semana me pediu para ensinar a escrever o nome do pai dela, ensinei, e ela ficou muito orgulhosa por ter conseguido escrever o nome dele.



Outra mudança que percebi hoje, essa mais sutil, mas para mim importante, Ela, desde sempre anda de ponta de pé, e por isso, ou por outros motivos que não consigo explicar, sempre apresentou lesões nos dedos mindinhos dos pés. Uma homeopata uma vez me disse que essas lesões eram uma forma do corpo dela lidar com a ansiedade... em fim... desde um ano ela sempre tem essas lesões, as vezes maiores outras vezes menores. E hoje pela primeira vez ao acariciar-lhe os pés após ela dormir notei que as duas estão cicatrizadas, na hora achei que era justamente por isso... a energia dela agora tá na terra, ta no chão... ta na lama, no banho de mangueira e ela tá se permitindo muito mais do que sempre fez. Meu coração de mãe está em festa, gratidão do tamanho do mundo as professoras Bel, Germana e Rúbia que com tanto amor estão ajudando a Marina nessa primeira caminhada.

Então aqui estamos nós, meio que na contramão, quase sem eletrônicos, com menos brinquedos, bem menos TV, nada de tarefinhas escolares tradicionais, sem pressão para fazer uma apresentação de dia das mães... mas certa de que a inteligência emocional e afetiva dela está muito bem cuidada.